sábado, 26 de janeiro de 2008

algumas notas

"mas também já vi muitos males feitos por gente sem religião. O Terror da Revolução francesa, os gulags do estalinismo, o massacre chinês no Tibete, os carinhos de Pol Pot nos budistas do seu país, O HOLOCAUSTO!", diz o nosso caro Manel.

Vamos por partes. O que interessa para aqui são os indivíduos que não sendo religiosos também foram muito mauzinhos? Olha, eu às vezes também sou muito mau. Chateio-me e e sou mesmo mauzinho. O Zé também. O Vasco idem aspas. E a Maria, amiga do Vasco? Essa é que é má!! Quando estamos a discutir a forma como a religião se entranha num Estado e a influência que teve no passado e eventualmente no futuro, importa analisar as religiões e as pessoas em causa. Já todos sabemos que líderes e seitas não-religiosas também cometeram crimes hediondos contra a humanidade. Certíssimo. Mas isso interessa agora para quê? Estamos a falar de religiões. Mal ao mundo já fez muita gente... religioso, ateu, agnóstico. Mas se a questão aqui é a dicotomia Estado/religião, então há que nos centrarmos no que é relevante: a religião e os líderes que a encarnam num certo tempo e espaço.
Quanto ao rol de personalidades que o Manel invocou para mostrar que indivíduos não abençoados pela graça do senhor também são matreiros, é importante corrigir um aspecto muito importante, e que muitas vezes é camuflado. Ora falas do Holocausto. Queres tu com isto dizer que Hitler era não-religioso? Queres tu com isto dizer que o Estado nazi era um estado laico?! Hitler era um cristão super refinado. Hitler NÃO era ateu ou agnóstico como muitos querem fazer passar. Reparem só neste excerto retirado directamente do Mein Kampf: "Hence today I believe that I am acting in accordance with the will of the Almighty Creator: by defending myself against the Jew, I am fighting for the work of the Lord". Desculpem, quem é o ateu?
Quanto ao ópio do povo, a expressão é de Marx e não de Mao. Se Mao a utilizou depois ou não nos seus discursos isso é outra questão. Também eu a usei aqui no blog e ainda não matei ninguém na minha curta vida e os amigos de indumentária vermelha que me rodeiam são apenas fans do Benfica em vésperas de clássicos Porto x Benfica.
Manel, não quero intrometer-me na tua vida espiritual. Cada um tem a sua, e eu respeito-a. Se a religião é uma luz para ti, eu respeito. Eu tenho uma luz bem diferente. Mas por isso é que somos todos diferentes! Se tivéssemos todos as mesmas luzes, isto era uma pasmaceira. Mas agora dizeres que a falta de religião também não fez bem ao mundo no passado é que é alvo da minha discórdia. A História mostra precisamente o contrário. Quando o nível de vida de um povo se eleva para indíces muito satisfatórios e de uma forma universal, o fanatismo religioso, seja ele qual for, diminui.
Laicismo é, no meu entender, uma posição absolutamente neutra e imparcial perante qualquer religião. As tentativas de "harmonização" de que falas nunca funcionaram. Harmonizá-las a todas nem sempre poderia ser positivo. Podia até resultar precisamente no contrário. Por outro lado, não penso que muitos países possuam uma população suficientemente educada para saber conviver com essa harmonia universal.
E olha, Manel, porquê que o casamento católico é o único com relevância na nossa ordem jurídica? Deveriam ter então todas as religiões a possibilidade de, no matrimónio, adquirirem juridicidade?

3 comentários:

Pedro disse...

Nenhum casamento em qualquer religião deveria, na minha opinião adquirir essa juridicidade.
O casamento católico adquire-a porquê? É essa a religião dominante no país e no mundo pelo que também se ingere no sistema juridico inevitavelmente.
Ora eu penso precisamente que nenhuma religião deve ter qualquer reflexo jurído por este motivo.

Mas permito me acrsecentar um outro. Pensem bem: O que seria se o casamento islâmico fosse reconhecido pelo sistema jurídico?
Um estado como o nosso em que há o respeito pelos direitos fundamentais ( ou deveria haver) reconheceria isso a uma religião que é tudo menos respeitadora desses mesmos direitos?

Não fiquem a pensar, porém, que defendo que não deve haver um reflexo religioso na sociedade. O que não pode haver é um reflexo jurídico.

Francisco disse...

Pedro,

A religião muçulmana não é desrespeitadora dos direitos fundamentais. Não confundas crentes muçulmanos com fundamentalistas muçulmanos... Porque entre crentes cristãos e fundamentalistas cristãos também vai uma grande distância.
O Islão não é um credo que professe a guerra. Há que separar o trigo do joio, coisa difícil de fazer quando os jornais e as televisões nos inundam com fanáticos aos berros de armas na mão a queimar bandeiras... mas o Islão não é isso. Da mesma forma que o Cristianismo não é só criacionistas e campos de férias como o retratado no filme "Jesus Camp".

Um abraço

D. disse...

sim, é verdade, eu conheço muçulmanos que não andam propriamente a meter bombas contra o peito e a proclamar guerra aos inimigos, pelo contrário, conseguem ser uma família ainda mais pacífica que algumas católicas que cá conheço.
ao ler o comentário do manel lembrei-me logo que de facto hitler era um fervoroso religioso, que de certa forma acreditava que o poder lhe tinha vindo de Deus (sobre isto, há um documentário muito interessante que passou há uns tempos no canal história).
quanto aos senhores muito maus de que o manel falou, pelo meu conhecimento, penso que apenas o Mao massacrou pessoas devido ao facto de terem uma religião, mas como eu vim de ciências e de história pouco sei, não o posso afirmar com toda a certeza.