segunda-feira, 17 de março de 2008

Gurus Portugueses Do Totalitarismo

"Após três décadas de democracia, estamos a assistir a uma reconfiguração do poder político. Essa reconfiguração assenta em dois pilares: o actual PS e a ala cavaquista do PSD. Incapazes de segurarem este arremedo de estado social, essas duas facções do poder tecnoburocrático uniram-se para procederem à maior transferência de riqueza de que há memória nas últimas três décadas.
Essa transferência de riqueza é absolutamente crucial para a manutenção dos privilégios dos oligarcas. Os professores, por serem 140000 e por estarem sistematicamente divididos enquanto grupo profissional, foram os escolhidos para a realização desse processo de transferência de riqueza.
Dentro de meia dúzia de anos, dois terços dos professores não passarão do meio da carreira e estarão condenados a trabalharem até aos 65 anos (ou mais) com um salário inferior ao de um sargento. Para que essa transferência de riqueza se realize sem sobressaltos para os oligarcas, é necessário que o poder político limite ou anule a liberdade de expressão nos espaços e organismos públicos.
A escola pública tem sido um espaço de eleição para o exercício das liberdades. Com ameaças de processos disciplinares, exacerbação dos conflitos entre professores titulares e não titulares e uma política oficiosa de guardar segredo sobre tudo o que se passa nas escolas, o poder político foi criando as condições ideológicas e repressivas para que essa transferência de riqueza se continue a fazer de forma doce.
O objectivo é fazer parecer essa transferência como natural, de modo a que as próprias vítimas do processo de pauperização e proletarização a aceitem como inevitável.
Se lerem A Política de Aristóteles, está lá tudo o que é preciso saber sobre o processo de perversão da democracia e a sua transformação em oligarquia. Em Portugal, esse processo está em marcha."


Após uma detalhada investigação sobre a natureza e causas da tentativa legislativa do PS/Porto transmitidas na passada sexta-feira concluí que este post não poderia ser mais propositado. Em tempos, numa conversa de café, discutia com amigos a Teoria da transição da ditadura para a anarquia e constatamos que é precisamente esta a situação que vivemos no nosso país. Uma democracia degenerada, como dizia Aristóteles, que, em termos mais genéricos que o texto acima transcrito, caminha a largos passos para uma ditadura de direita (num governo socialista) que, no fundo, no fundo, apenas tem como sumo objectivo sob disfarce o insurgimento, o levantamento popular . O que eles querem é que o activismo puro renasça e como tal atentam os jovens com medidas como o projecto-lei anti-piercings na língua, sobrolho, nariz, boca e genitais (com multas que variam entre os €1500 e os €45.000!!!).
É esta a única explicação, só pode ser. Se bem que podíamos elaborar um pouco mais a teoria da governação alienígena do Mundo, mas isso já seria um pouco rebuscado.
Pela minha experiência nunca vi ninguém a morrer por piercings ou tatuagens e, a título pessoal, possuo alguns e há já algum tempo bem como uma tatuagem e ainda aqui estou (ah! e um acrescento, adornei-me enquanto menor).
E o poder paternal é de quem? Do Estado?

Bem, ouvi agora o sr.Deputado a corrigir um mal entendido e afinal tudo isto só será proibido a menores e se o desejo dos pais for grande poderão surgir excepções. Enfim ...
O distrito do Porto, para quem não sabe, é o que possui a maior taxa de desemprego, o maior número de beneficiários do rendimento social de inserção do País. Os níveis de precariedade laboral, de pobreza e de exclusão social deveriam ser para o sr.Deputado e para esse grande homem da sociedade portuguesa, o sr.Bastonário da Ordem dos Dentistas a maior preocupação ou pelo menos, numa escala de preferências, deveriam sobrepor a questão de igualdade física (atenção, não-social) que pretendem atingir com este projecto-lei. Sim, porque na verdade a estandardização típica dos regimes totalitários começa a ter repercussões na nossa democracia.


N.A: O título deste post é retirado de um texto que li há uns tempos que assim apelidava o sr. Sócrates

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