terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

vão atirar-lhes com os donuts

Cerca de 40% dos polícias correm o risco de ficar sem arma com a entrada em vigor do novo Plano de Avaliação e Certificação de Tiro, anual, que prevê o desarme dos agentes que concluam os testes com nota negativa. Segundo a edição de hoje do Diário de Notícias, os agentes da PSP exigem mais meios para a prática de tiro.

«A maioria dos agentes está, em média, três a quatro anos sem dar um tiro. Cerca de 40% arriscam-se a chumbar nos testes, passando da rua, onde exercem funções operacionais, para serviços de apoio, sem arma», explicou ao jornal o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues.

Para o responsável, «o novo plano seria viável se fosse acompanhado de estruturas de apoio, nomeadamente mais locais de treino e a possibilidade de os polícias praticarem tiro por sua própria iniciativa».

Se 40% da polícia se vir privada do seu armamento, como é que esta poderá servir a sociedade nos momentos em que a criminalidade armada se torna evidente?
O presidente da ASPP resume em poucas palavras o estatuto de todas as reformas encetadas até agora pelo governo socialista: até seriam viáveis, se não carecessem de estruturas de apoio lógicas.

7 comentários:

Francisco disse...

Mais uma vez, o nosso caro Manel atesta a sua preocupação pela nossa segurança nas ruas deste perigosissímo país chamado Portugal.
É o terrorismo, as FP 25 e agora os bandidos e cretinos à solta pelas nossas ruas cujo nível de ameaça exige que os agentes da autoridade andem artilhados. É esta cultura de medo que interessa a tanta boa gente no poder.
Manel, em Inglaterra, essa famosa capital da ameaça terrorista muçulmana, nenhum polícia está autorizado a andar armado. Desde há muito, muito tempo.
Acho que é claro como a água que a solução para a segurança de uma comunidade, sociedade ou seja o que for, não passa pelo porte ou não de armas e outras medidas do género. Há outras formas de o fazer. E a primeira delas todas passa por algo que deve estar na raíz de qualquer grupo de homens: igualdade. E o aperfeiçoamento contínuo e efectivo desta. Porque quando as diferenças são cada vez menores, menor serão os abusos, a ganância, o egoísmo, a inveja, os conflitos... E isto não é nenhum ideal, doutrina, ideologia... É apenas uma constatação de factos. Se necessário, voemos até às socieades nórdicas. Ou, no pólo oposto, olhemos para os EUA, onde um fosso aberrante entre ricos e pobres leva a coisas abjectas como o "Patriot Act".

Um abraço


Um abraço

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

mas a pergunta que se põe é a seguinte: os níveis de criminalidade na Inglaterra descem devido a isso?
eu não acho que seja politica de medo armar os policias... acho que, seguindo o modelo britânico, existe uma maior divisão entre o policia de giro, que anda !geralmente! desarmado, e uma força de elite que anda severamente armada Francisco. a Inglaterra não é um sitio assim tão perfeito, e a ausência de armamento nos policias deve-se ao facto de os "bobbys" nunca terem usado armas, o que vem a ser contrariado pela tendência moderna. posso te dizer que a policia de certas áreas de Londres anda armada pá. e bem, tanto que tem havido relatos de abuso de autoridade, o que é mau, é uma verdadeira distorção daquilo que deve ser a força de segurança de um país.
quanto ao "Patriot Act", não vejo onde podes ligar isto ao texto, não é isso que está em questão. eu não concordo com esse tesourinho deprimente da legislação americana, nem tão pouco sou apologista das armas. mas a sociedade, tal como tu dizes, deve ser igualitária. logo, é do dever de todos nós velar pela segurança daqueles que nos protegem, da nossa polícia.
será que devem todos andar desarmados? se sim, não se deve criar organismos especiais para as situações em que um policia desarmado não se possa valer?
ou deverão andar eles armados, e assim ter apoio e instrução de tiro?

Francisco disse...

Manel,

Não disse que os níveis de criminalidade descem. No entanto não são os mais elevados da União Europeia. E vou-te dar um exemplo paradigmático: no Verão tive a possibilidade de percorrer a Europa. Sabes onde me senti mais inseguro? Na Polónia. Que é precisamente um dos país da UE mais policiados. Polícias numerosas equipas de segurança privada nos comboios, ruas, discotecas, bares,... todos muito musculados e armados até aos dentes. Achas que me senti protegido? Pelo contrário. Estava sempre à espera que me roubassem a carteira, me espetasse uma faca ou me sequestrassem. Pelo contrário, na Croácia ou na Grécia (sei que estou a fazer inveja :)) senti-me seguro e andei despreocupado, o que não implica evidentemente que não estivesse atento aos meus pertences.
Com a Inglaterra quis apenas dizer que não é no policiamento e no incutir do medo que está a solução para a insegurança. Aliás, a prova mais segura disso é pensarmos nas ditaduras: quanto maior a repressão, maior será a contestação e a luta. Inexoravelmente.
Não acho ser de uma sociedade democrática e livre a possibilidade de um agente policial poder descarregar um balázio no indivíduo por "dá cá aquela palha". É evidente que o recurso à arma é necessário. Mas a mim, pelo menos, já me repugna esta carácter "necessário" em guerras e conflitos armados de grande dimensão, pelo que permitir que um indivíduo ande armado no mesmo passei que eu para o caso de eu roubar uma banana de uma mercearia é algo que me assusta. E se não forem bananas, há sempre outras arbitrariedades. Lembram-se do jovem brasileiro assassinado a tiro por polícias ingleses no metro de londres? E porquê que aconteceu? Porque estava a correr em direcção ao metro e não parou quando os polícias o interpelaram. E porquê que o interpelaram? Porque pela forma como corria e possivelmente pela tez amarelecida, lhes fez lembrar esse fantasma das cuecas rotas chamado "terrorista". E então, mataram-no. Era "terrorista"? Não. Mataram um homem, mataram um cidadão, mataram uma família. Mataram tabém por momentos o ideal de uma sociedade livre e fraterna. E mataram em nome de quem? Quem paga a dor e o sofrimento?
Foda-se.

paz

Um abraço

D. disse...

tu disseste "fantasma das cuecas rotas?"... ao tempo que não ouvia essa expressão. é absolutamente genial, quando parar de me rir digo qualquer coisa interessante sobre o assunto.

D. disse...

não acho que a polícia deva andar totalmente desarmada, porque muitas das vezes, situações banais podem resultar em confrontos, em que o suspeito está armado e caso o polícia não esteja, não há de facto igualdade. o facto de um polícia estar armado não significa que vá matar tudo quanto pareça suspeito. esse caso de Inglaterra relaciona-se mais com o facto de a polícia estar treinada sobre pressão do que com o facto de estar armada. é claro que se psicologicamente um agente vive assustado, como acontece nos estados unidos, é natural que reaja mais violentamente e abuse da força mais facilmente.

Francisco disse...

Ah, por lapso, esqueci-me de me debruçar sobre o Patriot Act.
O Patriot Act é a cultura do medo da administração bush levada ao extremo. Eleva-se a religião muçulmana a grande mensageira do terrorismo, fala-se de Bin Laden como Alá, da Al-Qaeda como o Corão, de qualquer indivíduo com traços fisionómicos arábicos como "terrorista" e pronto, está feito. Institui-se uma falsa sensação de permanente perigo e ameaça assente em jornais e televisões detidas por barões do capital cordialmente ligados a Cheney, Bush e outros que entretanto já caíram. E quais as consequência deste estado de coisas? O Patriot Act tem-nas todas. Não vou perder muito tempo com isto. Basta qualquer um de vocês fazer uma pesquisa no google para se assustarem com esse brilhante tratado que nos faz voar até George Orwell e o seu Big Brother de "1984".
E Manel, qual é a razão sustendada por Bush e seus colegas para tal documento? Supreendentemente, os senhores estão apenas preocupados com os cidadãos. Querem apenas protegê-los dos inimigos, dos maus. Maniqueísmo a rodos...

Tudo isto para, mais uma vez, recusar uma sociedade policial e policiada.
Com tanta coisa para fazer pelo mundo e pelas pessoas, andamos preocupados com os tiros que os polícias podem ou não dar?
Volta, Gandhi...

Francisco disse...

Só mais uma achega.

"logo, é do dever de todos nós velar pela segurança daqueles que nos protegem, da nossa polícia".

Manel, já debati esta ideia numerosas vezes com amigos. Vou expô-la aqui: no meu entender, a Polícia serve, antes de mais, para nos servir. Nunca para nos suscitar medo. A Polícia é um serviço público prestado pelo Estado e por isso tem de cumprir com o seu objectivo primordial: proteger-nos. Não esqueçamos isso. No entanto, esta protecção deve ser, na minha opinião, moderada e coerente. Coerente com a Democracia e os direitos, liberdades e garantias inerentes a esta. Porque senão, lá está, somos levados até sociedades policiais com câmaras de vigilância pelas ruas e telefones permanentemente sobre escuta. Ah, mas esperem... não é isto que se passa hoje em dia?
Complicado.

Um abraço