quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Como referi no último comentário ao post do Manel sobre o ensino público, o texto que havia feito evaporou-se. Mas ganhei forças e resolvi voltar a escrevê-lo.
Aqui vai ele, em resposta directa ao último comentário do Pedro.

Pedro,

De facto não referiste as faculdades. Mas eu fi-lo, precisamente porque acho ser possível traçar um paralelismo pertinente no que toca à participação e intervenção dos alunos. Quer na escola secundária, quer na Universidade. De facto, o motivo é o mesmo: tanto a escola secundária como a faculdade são pólos de formação e conhecimento dos alunos e por isso penso que o desenvolvimento e aperfeiçoamento constante destes pólos deve passar, não só por administradores, docentes e funcionários, mas também pelos elementos que estão na sua génese: os alunos.
Disseste também que os alunos do secundário, de uma maneira geral, estão mais preocupados em saír à noite, fumar charros e beber uns copos. Aceito essa tendência. Todavia, uma coisa não invalida a outra. Falo por mim. A boémia não exclui a consciência cívica. Acho que isto é irrefutável. Por outro lado, porque a regra geral nos diz que os alunos pouco se empenham de forma construtiva na condução de uma escola pública de qualidade para todos, isso não implica que não haja nada a fazer. Revelas no teu último comentário um tipo de raciocínio muito semelhante ao do Henrique em posts idos. Isto é: reconheces uma situação, considera-la prejudicial e por isso condena-la, mas ficas-te por aí. O Henrique acaba por paradoxalmente, no meu entender, preconizá-la; tu não. Não o fazes mas também não procuras alterá-la. Resignas-te e conformas-te: a solução, dizes tu, passa pois por "deixar que os alunos tenham voz mas que não decidam nada". Foi mais ou menos isto que disseste, estou certo? A tónica, a meu ver, está precisamente na alteração desse estado de coisas. Deve haver movimentos e grupos de dinamização que puxem pelos alunos, que os motivem. Para que estes formem uma consciência cívica de intervenção exigente e reclamem peso nas decisões que lhes dizem respeito. Só assim, combinando harmoniosamente o papel dos alunos com o dos docentes, funcionários e administrativos é que será possível, na minha opinião, uma escola pública de qualidade. Uma escola pública onde todos participem e construam algo comum de forma democrática. O que não implica, como já referi em comentários anteriores, a não existência de parâmetros hierárquicos. Mas isso é outra questão.

Quanto ao sistema de ensino brasileiro, Pedro, cometes na minha opinião uma falácia de raciocínio que te leva a conclusões deturpadas. Vejamos porquê: dizes tu que o único aluno "pobre" brasileiro que acede a uma faculdade brasileira tem que usaapresentar uma média de 18 valores. Bem, onde está aqui a segregação social? Não a vejo. Acho que estás a fazer confusão. Uma coisa é uma segregação social efectiva (grupos ou classes sociais priviligiadas, promiscuidades), outra coisa é uma "segregação", se assim lhe quiseres chamar (eu não chamo), qualitativa. E, pelo que tu disseste, o tipo de "segregação" do sistema de ensino brasileiro é este segundo que referi. Ora não vislumbro aqui qualquer segregação social ou discriminação entre ricos e pobres. Tanto o pobre como o rico tem que ter 18 valores para entrar numa faculdade pública. Tanto o pobre como o rico, quando não apresentar essa média, não entrará na faculdade. Onde está a "segregação"? Podes dizer-me que muitos estudantes "pobres" podem não conseguir essa média por não disporem das condições e qualidade de vida que um aluno rico dispõe, e que lhe permite obviamente, na teoria, obter um outro tipo de classificações. E aqui estou totalmente de acordo contigo. Mas neste ponto tu próprio te contrarias quando, no primeiro comentário disseste qualquer coisa como: "nós não entramos na faculdade? se os outros não entraram, estudassem!". Ora como já o disse, acho que este teu pensamento carece enormemente de rigor e bom-senso. Há muito para além de "quero ou não quero estudar". Muito mesmo. "A essência precede a existência", diria Marx.
Voltando ao ensino brasileiro, a falácia de raciocínio que te apontei há pouco volta a estar presente quando te referes às bolsas de estudo. Se elas são atribuídas apenas aos alunos muito bons, essa atribuição obedece somente a critério qualitativos. Mais uma vez: tanto pobres como ricos que tenham classificações muito boas acedem a bolsas de estudo. Insisto: onde está a "segregação"? No entanto, reconheço algumas carências aos sistemas de bolsas de estudo. Do meu ponto de vista, a sua atribuição deveria obedecer a um sistema biforme: por um lado, aos alunos com melhores classificações; por outro lado, aos alunos com maiores dificuldades e carências económicas. Se é isto que achas que falta ao sistema brasileiro, então aí sim, estamos também de acordo.

No que diz respeito ao sistema finlândes, voltas a elaborar o raciocínio a la Henrique: o sistema finlandês é que é bom, o nosso é uma merda e tão cedo não mudará para melhor. Ora esta inércia não serve para nada. As coisas não mudam por si só. O sistema finlandês não é o que é por mero acaso. Tal como o nosso é o que é por determinadas circunstâncias. O que há então a fazer? Voltamos então ao início deste texto: participar, intervir, reivindicar, lutar. Esta participação envolve pois também os alunos. Pensa em ti próprio: acabas de condenar o nosso ensino. Se tu e eu e todos os que o condenam procurarem fazer algo pelo seu desnvolvimento e aperfeiçoamento, em consertação com as entidades públicas, maior será a possibilidade de termos um ensino público de excelência que privilegie a qualidade, o rigor, a exigência e a democracia. Estás a ver como temos aqui a Democracia?

Uma palavra para Daniela,

Eu sou um defensor acérrimo do ensino público (de qualidade). Todavia, não concordo contigo quanto à não-existência do ensino privado. Este deve existir porque, recordando Jean Bodin (esta é para o Nico Maqui :)), a pluralidade social e institucional está na natureza de qualquer sociedade. Da mesma forma que a pluralidade de preferências está na natureza do Homem. Ou seja: deve ser democraticamente permitido aos cidadãos optarem por um ensino público ou privado. Quem sou eu para dizer que os filhos do meu vizinho devem andar no ensino público? Se um dia tiver filhos, penso ser o melhor para uma educação aberta e miscigenada que eles frequentem uma escola pública. Uma escola rica em nacionalidades, línguas, credos, hábitos, culturas e etnias. Mas isto é a minha visão. Porque penso ser assim a forma mais inteligente e democrática de instruír nas crianças a tolerância, o respeito, a amizade e a igualdade. Mas esta minha visão não pode ser doutrinária. É apenas a minha opinião. Penso que devemos respeitar as opiniões de quem não pensa desta forma. Quem, pelos motivos mais diversos, acredita que a melhor educação para o seu filho é num ambiente mais reservado, elitista ou protegido. Liberdade de escolha é um princípio basilar de uma Democracia.
Mais uma coisa: dizes tu que o ensino privado não é rigoroso e conduz a injustiças no acesso ao ensino superior. Cuidado com as generalizações. Há escolas privadas que são de facto uma anedota do que é um sistema de ensino que se quer exigente. Mas também há escolas privadas de excelência, com docentes super qualificados e de exigência muito elevada. Da mesma forma que existem escolas públicas excelentes e outras muito fracas. Pluralismo, mais uma vez.

Um abraço

23 comentários:

D. disse...

pluralidade que conduz a desigualdade não é verdadeira pluralidade. das duas uma: ou temos escolas privadas e públicas e os alunos de cada uma concorrem apenas a faculdades públicas ou privadas, ou temos de ter escolas privadas igualmente rigorosas, das quais não conheço nenhum caso.

Pedro disse...

estás realmente certo quando dizes que eu dfendo que que os alunos tenham voz mas não decidam nada. O que te digo é precissamente isso. Devem funcionar as associações estudantis como uma especie de lobby. todos sabemos o papel deles. Ter voz e não ter directamnet poder é isso mesmo que eu defendo. E já agora permite-me apontar também um pequeno erro teu de raciocínio também. Falas do papel dos alunos mas deixas para outra altura os parametros hierarquicos. essenciais de acordo com o teu pensamento para eviotar uma anarquia no ensino. E se me permites discordar mais uma vez de ti, eu separo sim o ensino secundário do ensino superior. Nunca os meus charros ou a minha boémia eliminou a minha consciencia civica durante o secundário. Jamis tal sucederia. Porém, não tenho nenhuma duvida em dizer que a minha luta nos tempos dos ecundário passariam pelo fim das aulas dist ou daquilo, pela liberdade de fumar, pelo menor tempo de aulas e tudo o que me favorecesse a mim proprio e jamais os outros. Tinha consciencia cívic no entanto, ignorava-a? isso sim.

Passando á questão do que eu designo de segregação. Em ciba tens taxista médicos. No brasil tens taxistas analfabetos. Quero dizer com isto que no Brasil se tiveres uma media de 16, ou 15 ou 14 ou 13 que seja não entras na faculdade se não tiveres dinheiro. Não vês aqui segregação? eu vejo, sem dúvida que vejo. e vejo porque ela está á mionh afrente e eu não sou capaz de lhe virar os olhos. Não achas que negar a um estudante medio ( a maioria em todo o mundo são estudantes de notas medias) o acesso a uma faculdade porque não tem dinheiroosegregação. Isto quando um estudante com dinheiro na mesma condição pode estudar. Estás a ver que não me refiro aos alunos de 18, mas sim à esmagadora maioria. Não vês aqui segregação? pergunto-te mais uma vez.

Na parte do sistema finlandês reconheço que não apontei a solução e me limitei á critica, pelo que te possa parecer um conformado ou um derrotista. Mas não o sou. Se há coisa que eu procuro sempre é procurar alternativas aos problema e para tudo aquilo cujo funcionamente é ineficiente, errado e injusto. Não o apontei por me parecer inorportuno alongar ainda mais aquele comentário. Mas prometo-te desde já apontar-te a tal solução que defendo, num texto brevemente. Quanto á luta "pelo ensino em consertação....."concordo de facto contigo.

quanto á existência do ensino privado digo-te que defendo como a daniela a inexistência do ensino privado. Dou-te o exemplo cubano e já referido por mim. Lá, o medico é taxista. Não achas que tem qualidade? Para evitar qualquer interpretação errada acresecento que não defendo o ensino nos moldes do fidel, mas ele provou que pode haver um sistema publico de ualidade. ninguém o pode negar. O sistema público é sem dúvida o que mais defendo os pobres e necessitados e mais permite uma igualdade de oportunidades. Acho que isso pode não eliminar a pluralidade social e institucional.

Francisco disse...

Daniela,

A pluralidade de que falo não conduz a desigualdade de espécie nenhuma. A pluralidade de que falo deixa ao critério de cada um a educação e o espaço onde formar os seus filhos de uma forma exigente e competente. Estás a confundir muitas coisas, Daniela. Em primeiro lugar, escola públicas com acesso exclusivo a universidades públicas e escolas privadas com acesso exclusivo a universidades privadas não faz qualquer sentido. Nenhum mesmo. Posso frequentar uma escola pública por opção e decidir, uma vez chegado ao ensino superior, optar por uma faculdade privada, por esta apresentar condições (instalações, professores, cursos, saídas, investigação, etc) muito mais favoráveis do que numa faculdade pública. Embora os EUA não sejam exemplo para ninguém (porque aí sim, há verdadeira segregação e não a "segregação" vazia e incoerente de que o Pedro falou), a verdade é que as Universidades de Yale, Harvad, Princeton ou Berkeley estão entre as 10 melhores do mundo. E todas elas são privadas. Da mesma forma que posso ter frequentado uma escola particular e uma vez terminado o secundário decidir escolher por faculdade pública igualmente pelo facto de esta apresentar mais valias em relação ao privado.
Se não conheces escolas privadas de rigor e qualidade, isso é problema teu, Daniela. Devias antes de tudo procurar saber mais e só depois emitir um juízo. Há excelentes escolas privadas e péssimas escolas privadas. Eu conheço múltiplos exemplos de ambas. Queres mesmo que os enuncie? Se for necessário assim o farei. Mas já que estamos neste ponto, ouso ir mais longe. Até ao 6º ano frequentei uma escola "privada". Uma escola de qualidade e de exigência, com professores de excelência e com um acompanhamento permanente aos alunos, quer aos mais carentes, quer aos com melhores resultados. A única coisa que tenho a lamentar sobre esta escola privada é a impossibilidade de todos a ela poderem aceder. Não porque exija uma mensalidade exorbitante, mas porque de facto somos um país pobre e muitas carteiras dão para pouco mais do que as compras para a casa, a renda, a luz, a água,... Ora fiz o meu 7º ano até ao 12º ano em duas escolas públicas. Também elas de excelente qualidade. E agora estou numa faculdade pública. É desta pluralidade de que falo.
Sei do que falas quando te referes dessa forma. É natural. Fazes alusão às pessoas que andam em escolas particulares da treta onde obtêm 18's e 19's para entrarem me medicinas, farmácias, engenharias e por aí fora. Mas, volto a insistir, nem todas são assim. Há escolas privadas de enorme exigência e rigor. Não tomes a parte como o todo, até porque, como tu própria dizes, "não conheces". Primeiro, tenta conhecer.

Pedro,

Antes de mais, deixa-me dizer-te não vejo nenhum acrescento relevante neste teu último comentário. Todavia, há alguns pontos que te quero esclarecer.
Lobby? Foi boa, essa. Mas na prática não diz nada. Ter voz e não participar e intervir não muda nada. Absolutamente nada. Na política sim, porque a corrupção existe. Mas no ensino, esse "lobby estudante" não faz qualquer sentido. Os estudantes devem ser muito, mas muito mais do que um "lobby". Já o expliquei porquê, não vou tornar a fazê-lo. Repetiste as mesmas ideias e não descontruíste as minhas pelo que a única conclusão a que posso chegar é que temos concepções democráticas de ensino irremediavelmente diferentes. Seja.

Quanto ao erro no meu raciocínio não percebi onde é que ele está. Pelo menos da forma como o expuseste. Disseste isto: "E já agora permite-me apontar também um pequeno erro teu de raciocínio também. Falas do papel dos alunos mas deixas para outra altura os parametros hierarquicos. essenciais de acordo com o teu pensamento para eviotar uma anarquia no ensino". Bem, acabas por não explicar esse erro. É um non-sense. Onde está o erro e, já agora, o porquê do erro? Quando falo de parâmetros hierárquicos, falo de que, na tomada de decisões por docentes, alunos, funcionários e administrativos, estas devem obedecer a uma certa hierarquia. Por exemplo: "direito de veto" só para alguns dos elementos citados; número variável de representantes de cada grupo; diferente peso nas decisões (grupos com maior ou menor fatia do bolo), etc. Deixei na altura os parâmetros hierárquicos de fora porque não era essa a questão primordial que se estava a abordar. Aliás, tu nunca chegaste sequer a tocar nela. Mas se quiseres que os desenvolva, diz-me, e assim o farei.

Não percebi muito bem o teu conceito de "consciência cívica". Não cheguei a perceber se fazias alguma coisa pela tua escola ou não. Vou-te ser sincero: na minha escola secundária, a AE era infelizmente como tu estereotipaste as AE'S de todo o país: festas e mais festas. Só. Por isso mesmo nunca me interessei por nelas estar presente ou colaborar.

Sobre Cuba, e esta é para o Pedro e para a Daniela:

Antes de mais, lembrem-se de uma coisa. O sistema de ensino cubano é puramente público, não porque a população assim o decidiu e aplaude constantemente, mas porque foi imposto, de uma forma não democrática pelo Estado. Este é um aspecto importantíssimo quando andamos aqui a falar de Democracia no ensino. Lembrem-se disso.
É inegável a qualidade do sistema de ensino cubano. Mas a qualidade de uma coisa não implica que outra homogénea não possa ter igualmente qualidades. Mais qualidade até. Ou menos. Ou igual.
Cuba tem de facto muitas virtudes no que diz respeito ao seu ensino, mas tem também muitas carências. A nível de diversidade de cursos, de número de instituições (poucas mais cidades do que Havana têm várias e boas faculdades) e a nível de condições e tecnologia. Se os médicos cubanos são dos mais competentes que existem no mundo, de engenheiros, por exemplo, já não ouvimos falar.
Só mais uma coisa, Pedro. É engraçado como a comparação que fazes para tentar estabelecer uma superioridade do ensino cubano em relação ao brasileiro é dizer: "Em cuba tens taxista médicos. No brasil tens taxistas analfabetos". Mas isto tem alguma coisa de positivo? Nem taxistas médicos, nem taxistas analfabetos! Chegas ao absurdo de considerares "melhor" um taxista que tenha formação médica do que um taxista iliterado. Esta comparação, além de absurda, não serve para nada, não existe.

Sistema brasileiro,

Pedro mais uma vez voltas a não acrescentar nada. Se me falasses dos EUA, onde de facto para acederes a uma faculdade (privada, porque são quase a totalidade) além de uma boa classificação, necessitas de uma bota nota, era uma coisa. No Brasil, até este teu comentário não tinhas exposto nada do género, daí eu dizer que não via qualquer segregação. Mas agora vens dizer que afinal o factor monetário também é determinante. Em que ponto ficamos? É que é necessário saber com rigor do que se trata para podermos fazer juízos válidos. Gostava pois que me esclarecesses convenientemente e, se possível, que me indicasses as fontes.

Sistema finlandês e sistema português:
Fico à espera dessa solução.

Como já disse, sou um acérrimo defensor do ensino público. Por tudo o que mencionei. Mas sou também um acérrimo defensor da Democracia e da liberdade de cada um fazer o que bem entender quanto à educação dos seus filhos. E acho que é precisamente desta Democracia, no ensino e no Estado, que vocês se estão a esquecer. Não confundam qualidade com exclusividade.
O pluralismo faz-se precisamente da Democracia e das opções de cada um (ou vice-versa).

Um abraço

Francisco disse...

Só uma correcção: "Se me falasses dos EUA, onde de facto para acederes a uma faculdade (privada, porque são quase a totalidade) além de uma boa classificação, necessitas de uma bota nota, era uma coisa". "Nota" quer aqui dizer dinheiro, rendimento, capital, etc etc.

Um abraço

Pedro disse...

o sistema brasileiro não é comparável ao sistema americano. Descreves-te aí o sistema americano. Deixa-me falar-te então um pouco mais do sistema brasileiro. Procura num site qualquer sobre o ensino brasileiro e verás que as classes medias ascendem cada vez mais ao ensino superior: de facto são concedidos muitos benefícios a estes estudantes -bolsas, descontos... muito mais do que cá. No Brasil tens também faculdades publicas de relativa qualidade quando olhadas globalmente. O aspecto segregacionista, para mim prende-se ao ver ao meu lado no bar um tipo que me diz que foi o melhor da turma, mas por ser favelado não pôde estudar; o aspecto segregacionista está para mim em entrar na universidade de fortaleza (uma das boas brasileiras) e ver uma uniformização social: só ricos; o aspecto segregacionista está em ter de ser servido na praia por um miudo de 8 anos que trabalha e estuda e divide assim o seu tempo; o aspecto segregacionista noronha está nas dificuldades que um estudante encontra para entrar numa faculdade. Para tu veres o melhor colocado nos exames previos que eles têm por lá veio do ensino público, era tipicamente de classe media e vivia com dificuldades e teve que acbar com mais de 9,5 para poder ter os estudos pagos.Sabes que isso foi notícia durante semanas no brasil. Aqui vem sempre do ensino publico o melhor (com algumas excepções claro): Está aqui o aspecto segregacionista de que te falo. As fontes que me pediste podes procura-las em qualquer site brasileiro feito a convite do estado. Isto não encontrei escrito em lado nenhum. Vi-o e falei-o com pessoas de lá, desde muito ricos a favelados.

A solução que me pediste. Terei todo o prazer em discuti-la pessoalmente contigo depois, mas cá vai. A minha solução passaria como te disse pela adopção do sistema cubano, mas atendendo ás nossas especificidades. Inexistência de ensino privado em primeiro lugar. Totalidade de estudos pagos e de materiais pagos ( o minimo como é obvio. Dou-te um livro mas se quiseres dois pagas o segundo).
As ae's já deixei atras a minha posição, pelo que aqui apenas me limito a opor ao novo papel dos estudantes no ensino secundário. este assunto fica para a proxima.
ensino superior gratuito mas limitativo. e aqui ve-mos uma diferença clara para mim. Limitativo significa para mim uma nota minima para o ingresso na faculdade (14 valores), isto para qualquer curso. Limitativo significa um numero de vagas considerando o mercado de que estamos a falar: não podemos ter 1000 advogados e muitos menos profissionais de outras areas.
Carece isto de complementação? sem duvida, mas como te disse este assunto é preferível ser debatido pessoalmente. Porém, por respeito a todos não deixei de o apresentar numa forma resumida. alé disto já são 5 da manha.

abraço

Anónimo disse...

num país como Cuba, não vejo como sequer podemos mencionar a funcionalidade do serviço público.
não sou minimamente apologista do regime de fidel castro. e esse sistema, que vocês chamam público, eu digo-vos antes ser um sistema politizado.
todas essas faculdades brilhantes de medicina, todas essas escolas prodígio, são reguladas e seguidas ao pormenor pelo Partido Comunista. a vida dos médicos, as aulas dos professores, são rigorosamente cronometradas pelo Partido. Numa sociedade moderna e liberal, não podemos construir um sistema assim. numa sociedade moderna, pedro e daniela, é impossível conter a presença do ensino privado. ele está presente tal e qual uma empresa privada, ele tem a sua funcionalidade, ele também é fulcral para o desenvolvimento do cidadão.
agora, o que eu acho que devemos fazer, e eu sou puramente neo-classicista no que toca a intervenção do Estado, é regular a actividade dessas escolas de forma a permitir uma competição justa entre estas e as públicas. situações como as do colégio nossa senhora da paz e do colégio de ermesinde, ou do luso-francês, são de louvar. é ensino exigente.
situações como as do dom duarte aqui do porto são de fiscalizar. porque não trazem a oportunidade de uma melhor educação, trazem a oportunidade de comprar notas.

resumindo a minha posição, não podemos actuar tão fortemente a nível da iniciativa privada. por muito que eu odeie os colégios que obrigam os miudos a andar de gravata, porque é um pecado obrigar uma criança andar empertigada como um rabanete, temos de aceitar essas condições como próprias de um estado liberal, democrático e de direito.
logo, apoio o francisco noronha neste angulo.

como eu sei que voces nao sao nenhuns reaccionarios, nem mauzoes (excepto a daniela, que é claramente nazi) (estou a brincar daniela, pf) ´lanço uma centelha de cordialidade com a vossa posição, ao partilhar com voces a minha opiniao que o ensino privado devia ser alvo de maior exigencia e observação pelo estado, de forma a que ela esteja de acordo com os principios democraticos da concorrencia, argumento que a instituiçao privada tanto defende.

ass: manuel, a escrever de um pc da faculdade de direito da mui nobre e leal invicta cidade do porto.

D. disse...

quando falamos do exemplo de cuba falávamos apenas no facto de ser um sistema totalmente gratuito da primária ao fim da faculdade, não se o fidel é o maior do mundo e se as matérias são ensinadas de forma imparcial ou não. no aspecto de ser gratuito e dar oportunidades a todos, não se pode dizer que é falso.
e já que o manel resolveu apontar o dedo aos colégios fraudulentos, acho que seria interessante saberem o que acontecem nos "externatos académicos", acredito que iam ficar mesmo muito chateados por perceber o esquema que lá se pratica para obter notas e acabar o secundário. eu mesmo demorei algum tempo a acreditar que tal era possível.
francisco, quando eu falava de os alunos das públicas concorrerem apenas a públicas e os das privadas concorrerem apenas a privadas, falava do facto actual, em que alguns alunos ficam para trás por terem estado a estudar em escolas públicas, enquanto que outros com melhores notas e menor rendimento escolar, lhes passam à frente, achas justo? não creio. isso conduz a uma enorme desigualdade de oportunidades, criada pelo facto de nem todos podermos pagar notas.

Pedro disse...

Manel,

Gostava muito que me explicasses como consegues uma competição justa entre as escolas privadas e as escolas públicas. Eu não quero ser chato mais uma vez mas como podes querer que concorram escolas onde tens de estudar e escolas onde tens notas e a outra nota de que o francisco já falou.

É daí que parte a minha defesa da exclusividade pública de todo o ensino, que eu não acho que atente contra os alicerces e baluartes de uma sociedade moderna e democrática.

Pedro disse...

"onde tens de estudar e escolas onde tens notas e a outra nota de que o francisco já falou."

A primeira nota é notas adquiridas á partida.

abraço

Francisco disse...

Pedro e Daniela,

estão ambos a repetir as mesmas ideias e sem contra argumentarem construtivamente os aspectos negativos por mim e pelo Manel considerados nos vossos discursos. Assim não há muito mais por onde pegar neste tema.
I'm out, people!

Um abraço

D. disse...

tens piada francisco. não podemos ir inventar argumentos onde eles não existem. se pensamos que estas são as razões porque não deve haver privado, seria uma pouco banana irmos arranjar outros apenas para parecer bem... xD

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

=)
mais fácil do que começar já a azedar os discursos minbha gente, era propormo-nos a lançar um debate aqui no almanaque sobre a completa nacionalização do estudo, defendida pelo pedro e pela daniela, e a posição que o manuel e o francisco defendem.
e ao mesmo tempo, fazer uma sondagem aqui no blogue. tem umas definições que deixam fazer isso.
eu proponho um máximo de 3 textos para cada um (para nao eternizar e questão) em que cada um de nós dá a sua opinião. é mais funcional do que comentar apenas na caixa de comentarios, e faz o blogue mais atractivo.
que me dizem?

Pedro disse...

Louvável Manel.

Melhor do que entrarmos em conversas do tipo "tu já não dizes nada de novo. E tu também não" é sem dúvida preferível adoptar essa tua ideia Manel. Só um apalavra. Noronha, só me repeto é por um unico motivo. Porque já expus a minha ideia. Se te pedir que voltes a defender o que já defenddeste também te iras repetir. O importante é tirarmos as ilações devidas, como fez o Manel e muito bem.

Mais uma vez, Manel, excelente proposta

Abraço

Inês disse...

'isso conduz a uma enorme desigualdade de oportunidades, criada pelo facto de nem todos podermos pagar notas.'


podermos/querermos ;)

Francisco disse...

Sim senhor. Temos blog!
Temos aqui Gregos e Troianos de barba rija. Siga a marinha, então!

Uma última palavra para a Daniela e para o Pedro.

Daniela: se fosses bsucar argumentos onde eles não existem, o problema era só teu! Nunca to disse para o fazeres. Trata-se de uma mera questão de inteligência e coerência. Mas uma coisa é uma argumentação evolutiva, outra é uma argumentação estanque. E, na minha opinião, mas é só a minha opinião, este último tem sido o tipo de exposição utilizado por ti e pelo Pedro. Alem de não cederem, e também não têm que o fazer evidentemente, utilizam as mesma opniões sempre com as mesma razões. Isto é: não traz nada de novo. O que quer dizer é que eu ao dar o meu parecer de um assunto, apresento uma razão x. Mas se os meus compadres não aceitarem ou não compreenderem a razão x, então eu tento fazer-me entender com a razão y. Ou a w. Ou uma multiplicade delas. Ora é precisamento isto que vocês, a meu vêr, não têm feito. Definiram um argumento principal (exclusividade do sistema de ensino público) e apresentaram sempre, mas sempre, as mesmas razões para tal. Daí eu ter falado em argumentos "evolutivos". Não houve evolução ou aprofundamento na vossa argumentação. Por isso mesmo abandonei o campo de batalha.

Pedro: o que disse agora para a Daniela, serve também para ti. Uma coisa são repetir ideias, e se as temos devemos defendê-las; outra coisa é repetir de forma não inteligente ideias. É contra argumentar com elementos já referidos, já expostos e que não constituem factor de dinâmica para a discussão. Ora eu tenho procurado abordar a questão de diversos primas para que o entendimento seja possível de ser alcançado de uma forma mais construtiva. Só isto. É evidente que por vezes temos conceitos e visões irremediavelmente diferentes e até opostas. Mas se fosse para ficarmos cada um com a sua opinião não vínhamos perder tempo neste magnânimo ahah!) blog.

Quanto à iniciativa do Manel, acho interessante. No entanto, também penso ser uma questão cuja complexidade torna difícil votações ou decisões do tipo "sim ou não". Mas força, para a frente com essa sondagem!

Um abraço

D. disse...

bem, o que eu disse ao manel é que voltar a discutir este assunto vai conduzir à repetição de ideias e tal. mas se vocês o querem fazer, podemos alinhar nisso. embora pela participação que se teve neste texto, dá para perceber que talvez vamos ficar outra vez os quatros e atirar bocas uns aos outros...

Sara Morgado disse...

Eh pá, isto é que vai para aqui discussão e cabelos arrancados :)

Antes de mais, acho que devem existir escolas/faculdades públicas e privadas para que essa tal pluralidade exista, mesmo que nunca frequentássemos um dos lados. Para que haja liberdade de escolha.
Eu nunca andei em escolas privadas porque nunca tive razões de queixa das escolas onde estive. Consegui ter um ensino de qualidade e gratuito, pelo que essas queixas nem fariam sentido.
Portanto, creio que as escolas públicas em Portugal, no geral, acabam por ter qualidade e dar respostas aos alunos.
Estamos habituados a que o ensino privado dê notas. E isso é muito mau, principalmente quando se tem amigos que não entraram em medicina por uma décima e muitos de colégios com notas dadas entraram.
Mas depois, o verso da moeda: há colégios bons, com muita qualidade. Colégios como no Reino Unido, um pouco por toda a Europa e mesmo em Portugal. E nem é preciso ir muito longe: a Católica, actualmente, dá muitas mais cartas no mercado de trabalho a nível das Economias e etc, do que algumas faculdades públicas.
E depois temos o caso dos liceus tipo da Travagem que ficou nos piores da Europa.
Há casos para tudo.

Francisco disse...

Sara, apercebi-me que ainda não estás listada como contribuidora. Lapso meu! Deixa aqui o teu email para que te possa incluir.

Manel, se essa "sondagem" for mesmo para ir para a frente, diz-me em que moldes a queres elaborar para que eu a possa colocar no blog.

Um abraço

D. disse...

mas quantas mais injustiças vão ter de ser cometidas porque afinal há uma em cada cinco privadas que não é fraudulenta? na minha forma de ver as coisas, uma percentagem tão pequena não justifica que centenas de estudantes todos os anos sejam "tramados", apenas porque não quiseram jogar sujo. mas isto também sou só eu com manias não inteligentes xD
e sara, quando falas do liceu da travagem, os resultados a meu ver são maus devido aos alunos e não aos professores. que culpa têm os professores que de aqui na Travagem os miúdos prefiram partir vidros e faltar às aulas do que estudar? e ambas conhecemos um bom exemplo disso.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

nas definiçoes do blog tem a possibilidade de fazer uma sondagem.
a pergunta, para mim, devia ser:

achas que o ensino devia ser totalmente nacionalizado?

sim
não

Sara Morgado disse...

Sim, mas seja como for, a escola torna-se má. Claro que o Estado não tem muito a ver com isso, mas o facto é que não aconselharia aquela escola pública a ninguém.
O meu email é sara_morgas@hotmail.com. Lapso nenhum :)
Eh pá, essa pergunta é assustadora, quase quase estalinista.

Francisco disse...

lol, eu bem disse que perguntas do tipo "sim ou não" para uma matéria como esta não iam fazer muito sentido. Ou então fazem: parece de facto qualquer coisa a la estaline.

Um abraço

D. disse...

este assunto já chateia, não acham? podemos fazer isso mas sobre outra coisa qualquer...