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quarta-feira, 2 de abril de 2008

we think, therefore we ARE

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Como referi no último comentário ao post do Manel sobre o ensino público, o texto que havia feito evaporou-se. Mas ganhei forças e resolvi voltar a escrevê-lo.
Aqui vai ele, em resposta directa ao último comentário do Pedro.

Pedro,

De facto não referiste as faculdades. Mas eu fi-lo, precisamente porque acho ser possível traçar um paralelismo pertinente no que toca à participação e intervenção dos alunos. Quer na escola secundária, quer na Universidade. De facto, o motivo é o mesmo: tanto a escola secundária como a faculdade são pólos de formação e conhecimento dos alunos e por isso penso que o desenvolvimento e aperfeiçoamento constante destes pólos deve passar, não só por administradores, docentes e funcionários, mas também pelos elementos que estão na sua génese: os alunos.
Disseste também que os alunos do secundário, de uma maneira geral, estão mais preocupados em saír à noite, fumar charros e beber uns copos. Aceito essa tendência. Todavia, uma coisa não invalida a outra. Falo por mim. A boémia não exclui a consciência cívica. Acho que isto é irrefutável. Por outro lado, porque a regra geral nos diz que os alunos pouco se empenham de forma construtiva na condução de uma escola pública de qualidade para todos, isso não implica que não haja nada a fazer. Revelas no teu último comentário um tipo de raciocínio muito semelhante ao do Henrique em posts idos. Isto é: reconheces uma situação, considera-la prejudicial e por isso condena-la, mas ficas-te por aí. O Henrique acaba por paradoxalmente, no meu entender, preconizá-la; tu não. Não o fazes mas também não procuras alterá-la. Resignas-te e conformas-te: a solução, dizes tu, passa pois por "deixar que os alunos tenham voz mas que não decidam nada". Foi mais ou menos isto que disseste, estou certo? A tónica, a meu ver, está precisamente na alteração desse estado de coisas. Deve haver movimentos e grupos de dinamização que puxem pelos alunos, que os motivem. Para que estes formem uma consciência cívica de intervenção exigente e reclamem peso nas decisões que lhes dizem respeito. Só assim, combinando harmoniosamente o papel dos alunos com o dos docentes, funcionários e administrativos é que será possível, na minha opinião, uma escola pública de qualidade. Uma escola pública onde todos participem e construam algo comum de forma democrática. O que não implica, como já referi em comentários anteriores, a não existência de parâmetros hierárquicos. Mas isso é outra questão.

Quanto ao sistema de ensino brasileiro, Pedro, cometes na minha opinião uma falácia de raciocínio que te leva a conclusões deturpadas. Vejamos porquê: dizes tu que o único aluno "pobre" brasileiro que acede a uma faculdade brasileira tem que usaapresentar uma média de 18 valores. Bem, onde está aqui a segregação social? Não a vejo. Acho que estás a fazer confusão. Uma coisa é uma segregação social efectiva (grupos ou classes sociais priviligiadas, promiscuidades), outra coisa é uma "segregação", se assim lhe quiseres chamar (eu não chamo), qualitativa. E, pelo que tu disseste, o tipo de "segregação" do sistema de ensino brasileiro é este segundo que referi. Ora não vislumbro aqui qualquer segregação social ou discriminação entre ricos e pobres. Tanto o pobre como o rico tem que ter 18 valores para entrar numa faculdade pública. Tanto o pobre como o rico, quando não apresentar essa média, não entrará na faculdade. Onde está a "segregação"? Podes dizer-me que muitos estudantes "pobres" podem não conseguir essa média por não disporem das condições e qualidade de vida que um aluno rico dispõe, e que lhe permite obviamente, na teoria, obter um outro tipo de classificações. E aqui estou totalmente de acordo contigo. Mas neste ponto tu próprio te contrarias quando, no primeiro comentário disseste qualquer coisa como: "nós não entramos na faculdade? se os outros não entraram, estudassem!". Ora como já o disse, acho que este teu pensamento carece enormemente de rigor e bom-senso. Há muito para além de "quero ou não quero estudar". Muito mesmo. "A essência precede a existência", diria Marx.
Voltando ao ensino brasileiro, a falácia de raciocínio que te apontei há pouco volta a estar presente quando te referes às bolsas de estudo. Se elas são atribuídas apenas aos alunos muito bons, essa atribuição obedece somente a critério qualitativos. Mais uma vez: tanto pobres como ricos que tenham classificações muito boas acedem a bolsas de estudo. Insisto: onde está a "segregação"? No entanto, reconheço algumas carências aos sistemas de bolsas de estudo. Do meu ponto de vista, a sua atribuição deveria obedecer a um sistema biforme: por um lado, aos alunos com melhores classificações; por outro lado, aos alunos com maiores dificuldades e carências económicas. Se é isto que achas que falta ao sistema brasileiro, então aí sim, estamos também de acordo.

No que diz respeito ao sistema finlândes, voltas a elaborar o raciocínio a la Henrique: o sistema finlandês é que é bom, o nosso é uma merda e tão cedo não mudará para melhor. Ora esta inércia não serve para nada. As coisas não mudam por si só. O sistema finlandês não é o que é por mero acaso. Tal como o nosso é o que é por determinadas circunstâncias. O que há então a fazer? Voltamos então ao início deste texto: participar, intervir, reivindicar, lutar. Esta participação envolve pois também os alunos. Pensa em ti próprio: acabas de condenar o nosso ensino. Se tu e eu e todos os que o condenam procurarem fazer algo pelo seu desnvolvimento e aperfeiçoamento, em consertação com as entidades públicas, maior será a possibilidade de termos um ensino público de excelência que privilegie a qualidade, o rigor, a exigência e a democracia. Estás a ver como temos aqui a Democracia?

Uma palavra para Daniela,

Eu sou um defensor acérrimo do ensino público (de qualidade). Todavia, não concordo contigo quanto à não-existência do ensino privado. Este deve existir porque, recordando Jean Bodin (esta é para o Nico Maqui :)), a pluralidade social e institucional está na natureza de qualquer sociedade. Da mesma forma que a pluralidade de preferências está na natureza do Homem. Ou seja: deve ser democraticamente permitido aos cidadãos optarem por um ensino público ou privado. Quem sou eu para dizer que os filhos do meu vizinho devem andar no ensino público? Se um dia tiver filhos, penso ser o melhor para uma educação aberta e miscigenada que eles frequentem uma escola pública. Uma escola rica em nacionalidades, línguas, credos, hábitos, culturas e etnias. Mas isto é a minha visão. Porque penso ser assim a forma mais inteligente e democrática de instruír nas crianças a tolerância, o respeito, a amizade e a igualdade. Mas esta minha visão não pode ser doutrinária. É apenas a minha opinião. Penso que devemos respeitar as opiniões de quem não pensa desta forma. Quem, pelos motivos mais diversos, acredita que a melhor educação para o seu filho é num ambiente mais reservado, elitista ou protegido. Liberdade de escolha é um princípio basilar de uma Democracia.
Mais uma coisa: dizes tu que o ensino privado não é rigoroso e conduz a injustiças no acesso ao ensino superior. Cuidado com as generalizações. Há escolas privadas que são de facto uma anedota do que é um sistema de ensino que se quer exigente. Mas também há escolas privadas de excelência, com docentes super qualificados e de exigência muito elevada. Da mesma forma que existem escolas públicas excelentes e outras muito fracas. Pluralismo, mais uma vez.

Um abraço