terça-feira, 1 de julho de 2008

"Ser puta também é uma vocação"

Dei por mim a olhar para um daqueles mini-livros que servem como uma espécie de trailer de um qualquer filme; pequeno em tamanho procuram motivar-nos para comprar uma qualquer obra literária; normalmente, são de uma qualidade duvidosa.

Lembro-me do último a que dediquei meio minuto a ler: Carolina Salgado, ou seja esse mesmo meio minuto deu para compreender o que já facilmente todos entenderam - a sociedade hodierna está carregada de obras bastante duvidosas e qualquer pessoa é hoje escritora de renome... pergunto inocentemente, para onde foram os Malraux, os Kafkas, os Pessoas serão hoje aqueles "pobres" de espírito chamados Dan Browns????

Enfim não me preocuparei em criticar os escritores modernos, existem muitos que são óptimos naquilo que fazem, nos seus objectivos, quer seja alimentar o nosso ego com grandes histórias ou simplesmente alimentar-nos a pobreza intelectual do sensacionalismo.

Sem qualquer juízo de valor sobre Margarida Rebelo Pinto (ou seja abstenho de dizer se gostou ou não, se é ou não boa escritora... não está isso agora em causa), peguei hoje no seu "trailer" do livro mais recente dela: "Português Suave" - e, em verdade, certas palavras ficaram logo na minha cabeça, aqui as deixo. Abraço!


"Já me deixei de lamentar. É uma das muitas lições que aprendi com a minha mãe. Passei anos a queixar-me até perceber que isso cansava as pessoas. Ninguém é obrigado a carregar com as nossas penas. Cheguei a um beco sem saída e quando me senti no fundo, olhei para cima e disse para mim mesma: agora vais ter que subir a puta da montanha, quer queiras quer não, senão cai-te um piano, um avião ou uma bomba neste buraco em que te meteste e nunca mais levantas os cornos."


"Ser puta também é uma vocação", repete invariavelmente a Naná com o seu sarcasmo sempre colado à pele quando a história é recordada em serões à lareira. "Mais valia ter transformado a casa da Avenida da Bélgica numa casa de alterne, mas para a clientela mais selecta; ao menos não se perdia todo o património"


"Com o seu humor mordaz e tão característico - a Naná é igual - diz que nunca sofreu com a PDI, a puta da idade, que o mal do novo milénio é a PDS, a puta da solidão."

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