Sentimentos contraditórios surgem ao ver o filme "Persona" de Irwin Bergman. Não é um filme de "trato" fácil, estabelecendo em nós uma relação de amor/ódio. O filme desconstrói toda a realidade dos nossos quotidianos: a forma como agimos perante os outros, quem somos, que papel temos perante terceiros, perante nós mesmos. Cria-se uma história existencialista, perturbadora, real acima de tudo.
Necessidade de preencher o silêncio das palavras que apesar de absurdas ajudam-nos a sentirmo-nos vivos; procuramos diariamente estudar o outro e, por vezes, se a identidade é similar, então procuramos sugá-la a pouco e pouco. O filme atinge o seu clímax quando se vê a ironia, o sarcasmo, a sensação de superioridade quanto Electra (uma famosa actriz que deixara de falar, isolando-se do mundo) estuda de facto a enfermeira Alma. Reparem no próprio nome da enfermeira! Até que ponto elas duas não são a mesma pessoa, até que ponto a mudança de atitude traz em nós uma pessoa diferente? Fácil ver que quando nos relacionamos com alguém, criamos sempre os tais papéis que mantemos sistematicamente, até com nós próprios, assim no mais extremista dos pensamentos, somos falsos connosco e com o outro. Mas, cremos em tal falsidade e precisamos dela para conseguirmos, é o tal pecado perdoável ao ser humano, a tal hipocrisia social.
Podemos pensar no assunto, podemos viver ignorando-o, lutando pela sanidade mental - não esquecendo que o filme se trata da recuperação de Electra a mando da sua psiquiatra; será que ela alguma vez quis mesmo ser tratada? Será que ela não se fartou do tal pecado? Será que ela não quis apenas, ao isolar-se, poder viver consigo mesma de forma real? Poder quebrar a linha ténue que sempre a separou de si ao fazer vários "Eu's"?
Definir limita.... Acredito que Electra aceitou a sua realidade, o seu mundo, aceitou-se a si mesma.... A sua Alma representa uma luta constante dentro de si, pelos anos em que teve que fingir que era outra pessoa.
Contudo, mesmo superando tal hipocrisia humana, mesmo isolando-nos, será que nos encontramos a nós mesmos nessa situação? Não será também pecado desistirmos do mundo? Não será fraqueza?!
Acima de tudo aconselho este filme, ele consegue descontruir o nosso mundo, desconstruir-nos a nós próprios que durante uma boa hora e meia sentimo-nos completamente vazios; vazios por concordar, vazios por saber que é verdade (a aceitação e o reconhecimento desse pecado é sempre um primeiro passo).
Por fim, uma última nota: o filme em Português tem o título de "A Máscara" e acrescentaria eu que título perfeito esse - Máscaras sociais que utilizamos no quotidiano.
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